Brasil supera marca histórica de transplantes e anuncia modernização do sistema
Brasil bate recorde de transplantes e apresenta plano para aprimorar sistema de doações
O Brasil atingiu em 2024 um marco inédito na área da saúde pública: mais de 30 mil transplantes de órgãos e tecidos foram realizados por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), consolidando o país como referência mundial em procedimentos realizados exclusivamente pelo sistema público. O anúncio foi feito pelo Ministério da Saúde no início de junho de 2025 e incluiu a apresentação de um pacote de medidas para modernizar o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e aumentar a taxa de doações no país.
Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, as ações visam tornar o processo mais eficiente, garantir maior aproveitamento dos órgãos disponíveis e acelerar o atendimento às pessoas que aguardam na fila por um transplante.
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Avanços tecnológicos prometem acelerar compatibilidade entre doadores e receptores
Introdução da prova cruzada virtual
Uma das principais inovações anunciadas é a implantação da chamada prova cruzada virtual, que permitirá, a partir de setembro de 2025, avaliar a compatibilidade entre doadores e receptores usando dados digitalizados armazenados em bancos de sorotecas. Esse novo sistema deve substituir parcialmente o exame presencial tradicional, reduzindo o tempo necessário para confirmação de compatibilidade e agilizando a logística dos transplantes.
Com essa medida, será possível ampliar o número de combinações viáveis e evitar a perda de órgãos viáveis por falta de agilidade nos testes.
Benefícios diretos da mudança
- Agilidade no cruzamento de informações
- Redução do tempo entre a doação e o transplante
- Aumento da precisão na identificação de compatibilidade
- Redução de riscos de rejeição pós-transplante
A expectativa do Ministério é que a prova cruzada virtual ajude a diminuir significativamente o tempo médio de espera para transplantes de alta complexidade, como rim e fígado.
Reorganização das macrorregiões para melhorar a distribuição de órgãos
Redesenho da logística nacional
Outra medida anunciada diz respeito à redistribuição das macrorregiões de alocação de órgãos, que serão reorganizadas com base em rotas aéreas atualizadas, proximidade geográfica e infraestrutura hospitalar disponível. O modelo anterior, estabelecido na década de 1990, não refletia mais a realidade logística do país, especialmente após a ampliação da malha aérea e dos serviços de transporte sanitário.
Integração com transporte aéreo
A nova estratégia permitirá melhor aproveitamento das aeronaves da Força Aérea Brasileira e da rede de voos comerciais, reduzindo o tempo de deslocamento dos órgãos e ampliando a taxa de aproveitamento.
Ampliação dos tipos de transplantes oferecidos pelo SUS
Inclusão de transplante de intestino e multivisceral
Um passo importante na ampliação do acesso a tratamentos de alta complexidade foi a incorporação, pela primeira vez, do transplante de intestino delgado e multivisceral na tabela de procedimentos do SUS. O procedimento é indicado para pacientes com falência intestinal irreversível e que dependem de nutrição parenteral.
Até o momento, cinco centros especializados foram credenciados para realizar esse tipo de cirurgia — quatro no estado de São Paulo e um no Rio de Janeiro. Há previsão de expansão para outras regiões nos próximos anos.
Reforço no atendimento pré-transplante
Além da inclusão do novo procedimento, o Ministério da Saúde elevou em 400% o valor das diárias para pacientes em reabilitação intestinal, reconhecendo a importância desse cuidado antes da cirurgia. Hospitais em Porto Alegre e na capital paulista já estão habilitados para essa etapa de preparação.
Novo programa busca reduzir recusa de familiares em doar órgãos

ProDOT: Programa Nacional para Doação Organizada e Transparente
Entre os principais obstáculos para a realização de transplantes está a recusa das famílias em autorizar a doação de órgãos. Em 2024, quase 45% das famílias entrevistadas optaram por não autorizar a doação, o que comprometeu a efetivação de milhares de procedimentos. Em países como a Espanha, referência no tema, esse índice é inferior a 10%.
Para enfrentar esse problema, o Ministério lançou o ProDOT, um programa voltado à qualificação das equipes hospitalares que lidam com as famílias de potenciais doadores. O foco será capacitar profissionais para atuarem de forma mais humanizada e efetiva durante o processo de entrevista e acolhimento.
Objetivos do ProDOT
- Melhorar o acolhimento aos familiares
- Reduzir a taxa de recusa
- Estimular a cultura da doação de órgãos
- Uniformizar a abordagem em hospitais de todo o país
Novos insumos e reajuste nos valores pagos pelo SUS
Uso de membrana amniótica para tratamento de queimaduras
O Ministério também aprovou o uso da membrana amniótica no tratamento de pacientes com queimaduras graves. O material, que é proveniente da placenta humana, tem propriedades anti-inflamatórias, acelera a cicatrização e reduz o risco de infecção e dor.
A expectativa é de que o uso se amplie, futuramente, para o tratamento de lesões oculares e outras áreas da medicina regenerativa.
Aumento no valor pago pela captação de córneas
Outra medida anunciada foi o reajuste de pelo menos 50% no valor que o SUS paga pela captação de córneas. O aumento busca incentivar a atuação dos bancos de olhos e aumentar a oferta desse tipo de transplante, que hoje concentra uma das maiores filas de espera.
Números expressivos de 2024
Estatísticas consolidadas
- Total de transplantes: 30.300
- Pessoas na fila de espera: aproximadamente 78 mil
- Principais órgãos demandados:
- Rim: 42.800
- Córnea: 32.300
- Fígado: 2.400
- Transplantes realizados:
- Córnea: 17.100
- Rim: 6.300
- Fígado: 2.450
- Medula óssea: 3.700
Papel do SUS
O Sistema Único de Saúde financia cerca de 85% dos transplantes realizados no Brasil, incluindo o fornecimento gratuito de medicamentos imunossupressores necessários por toda a vida do paciente transplantado.
Desafios ainda presentes
Recusa familiar e desigualdade regional
Apesar do recorde alcançado, o país ainda enfrenta obstáculos relevantes. A taxa de recusa familiar continua elevada, e há desigualdade na distribuição dos transplantes entre as regiões. Estados do Norte e Nordeste ainda concentram menos procedimentos do que os do Sul e Sudeste, exigindo ações de regionalização e fortalecimento da estrutura local.
Expectativa com as medidas anunciadas
As iniciativas previstas para 2025 devem contribuir para reduzir o tempo de espera, aumentar a taxa de aproveitamento de órgãos e tornar o processo mais justo e eficiente em todo o território nacional.
Considerações finais
O recorde histórico de transplantes realizados no Brasil em 2024 é resultado de uma série de esforços do sistema público de saúde, que agora se fortalecem com o anúncio de novas medidas. Com inovações tecnológicas, reorganização logística, ampliação de procedimentos e ações de sensibilização da sociedade, o país se prepara para dar um salto de qualidade no sistema de doação e transplantes.
As ações anunciadas pelo Ministério da Saúde reforçam o compromisso com a vida e com a eficiência do SUS, ao mesmo tempo em que colocam o Brasil entre as nações com maior potencial de crescimento em transplantes públicos no mundo.

