O contexto da década de 1960
Nos anos 1960, o esporte de longa distância era considerado exclusivo para homens. Médicos e organizadores alegavam que mulheres não tinham resistência física para suportar 42 km de corrida. Essas ideias preconceituosas resultaram em regras que proibiam a inscrição feminina em maratonas oficiais, incluindo a mais tradicional delas: a Maratona de Boston.
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O prestígio da prova
Fundada em 1897, a Maratona de Boston já era, à época, o maior símbolo do atletismo de rua. Terminar a prova significava prestígio esportivo e superação pessoal. Mas para as mulheres, sequer havia a possibilidade de competir oficialmente.
Bobbi Gibb: determinação contra as regras

A paixão pela corrida
Roberta “Bobbi” Gibb nasceu em 1942, em Massachusetts, e desde cedo mostrou paixão pela corrida. Treinava sozinha em trilhas e ruas, acumulando quilômetros muito antes de o esporte ser considerado acessível para mulheres.
A recusa da inscrição
Em 1966, Gibb tentou se inscrever oficialmente na Maratona de Boston. O pedido foi rejeitado com a justificativa de que mulheres eram “fisiologicamente incapazes” de correr longas distâncias. A resposta não a desanimou; pelo contrário, serviu como motivação para desafiar as regras impostas.
A maratona de 1966: o feito histórico
O disfarce e a largada
Determinada, Gibb vestiu um moletom com capuz para esconder sua identidade. Escondeu-se atrás de arbustos próximos à largada, em Hopkinton, e entrou no percurso junto com os homens depois que a prova já havia começado.
A reação dos corredores
Ao contrário do que temia, Gibb encontrou apoio e até admiração dos outros participantes. Muitos a incentivaram durante o percurso, reconhecendo sua coragem e determinação.
A chegada triunfal
Depois de 3 horas, 21 minutos e 40 segundos, Bobbi Gibb cruzou a linha de chegada, tornando-se a primeira mulher a completar a Maratona de Boston. Sua presença não apenas quebrou barreiras esportivas, mas também desafiou estereótipos sociais e médicos da época.
Repercussão imediata
O impacto na mídia
A notícia do feito correu os Estados Unidos. Embora não tenha recebido, naquele momento, o mesmo destaque de outros atletas, sua façanha foi registrada como um símbolo de resistência. Aos poucos, Bobbi se tornaria referência para as mulheres no esporte.
A resposta da organização
Oficialmente, a Maratona de Boston ainda não aceitava mulheres. Mas o feito de Gibb abriu uma ferida: ficava claro que as barreiras impostas não tinham base científica, apenas preconceituosa.
Outras conquistas de Bobbi Gibb
Participações seguintes
Gibb voltou a correr em 1967 e 1968, novamente de maneira não oficial. Em ambas, completou a prova e reforçou sua posição de pioneira, mesmo sem o reconhecimento formal da organização.
Reconhecimento tardio
Somente em 1996, trinta anos depois de sua primeira maratona, Bobbi Gibb foi oficialmente reconhecida pela Maratona de Boston como a campeã feminina das edições de 1966, 1967 e 1968.
O legado de Bobbi Gibb
Inspiração para corredoras
Sua coragem abriu caminho para outras mulheres. No ano seguinte, Kathrine Switzer se inscreveu de forma disfarçada (com iniciais) e também correu, gerando imagens icônicas quando foi atacada por um organizador. Mas é importante ressaltar: foi Bobbi Gibb quem quebrou a barreira primeiro.
Avanços no esporte feminino
Em 1972, a Maratona de Boston passou a permitir oficialmente a participação de mulheres. Essa vitória só foi possível porque atletas como Gibb provaram, com suor e resistência, que as mulheres eram plenamente capazes de correr maratonas.
Olimpíadas de 1984
O movimento iniciado por pioneiras resultou em um marco histórico: a estreia da maratona feminina nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984. O evento foi considerado uma conquista coletiva das mulheres no esporte.
Bobbi Gibb além das corridas
Carreira multifacetada
Além de corredora, Gibb também é artista e cientista. Trabalhou em laboratórios de pesquisa, dedicou-se à escultura e à pintura e continuou promovendo a igualdade de gênero por meio de sua trajetória inspiradora.
Ícone da resistência
Sua história não se limita ao esporte. É uma narrativa sobre persistência contra barreiras sociais e institucionais, servindo como metáfora para tantas outras lutas femininas na década de 1960 e além.
A importância do feito até hoje
Uma lição de igualdade
A corrida de Gibb não foi apenas um desafio esportivo, mas um manifesto pela igualdade. Mostrou que os limites impostos eram construções sociais e não capacidades reais.
Inspiração permanente
Até hoje, atletas de diferentes gerações reconhecem Bobbi Gibb como a pioneira que abriu portas. Sua presença em Boston, mesmo desafiando regras, é lembrada como um dos maiores marcos da história da maratona mundial.
Considerações finais
Bobbi Gibb não apenas correu uma maratona em 1966. Ela desafiou a ciência da época, enfrentou preconceitos e provou que mulheres são capazes de grandes feitos atléticos. Sua coragem inspirou milhões e transformou para sempre a Maratona de Boston. O reconhecimento tardio não diminui o impacto imediato de sua façanha: Gibb se tornou a verdadeira precursora da inclusão feminina nas corridas de longa distância.

