Em meio a todos os holofotes em cima de jogadores como Neymar e Daniel Alves, cada vez que eles surgem diante das câmeras que tanto os perseguem, a marca de uma outra pessoa se faz apresentar. Por trás das madeixas do atacante e do cabelo platinado que chama a atenção no lateral-direito, está o trabalho de Everson “Perninha”, morador da comunidade do Andaraí, no Rio de Janeiro, que se tornou o barbeiro oficial da seleção brasileira.
Por trás do trabalho de Everson Conceição de Oliveira, conhecido como “Perninha”, que fica concentrado com o time brasileiro na Granja Comary sempre que há treinos da equipe, há uma realidade bastante humilde.
O barbeiro de 28 anos começou a trabalhar no ramo aos 14 no porão da casa de sua mãe, que servia como um salão improvisado. O estabelecimento contava com apenas uma cadeira de ferro, um espelho e o convidativo preço de apenas R$ 3 por corte. E dentre os principais clientes estavam os traficantes e os mototaxistas da comunidade.
“Na época eu criei três tópicos que foram super importantes: estratégia, ousadia e confiança. Naquela época não tinha Facebook e mal tinha Orkut, então minha estratégia de marketing foi cortar o cabelo dos traficantes, mototaxistas e pessoas de referência da comunidade. Eles ficavam circulando pela comunidade e divulgavam meu trabalho. Depois que comecei a cortar o cabelo deles, meu nome começou a gritar na redondeza”, disse o cabeleireiro, que hoje trabalha pela rede “Barbearia do Zé”, ao UOL.
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Foto: Reprodução
Perninha entrou no universo do futebol em 2014, quando começou a cortar o cabelo de jogadores do Flamengo por indicação do ex-volante do clube, Muralha. Em meio a seu trabalho, fez amizade com jogadores como Léo Moura, um dos maiores ídolos recentes do clube, e conquistou seu espaço dentro da Gávea.
Em 2015, em ponte feita pelo atacante Kayke, hoje no Santos, o barbeiro conheceu o meia Renato Augusto, com quem fez amizade. E o meio-campista da era Tite “apadrinhou” Perninha: “Ele [Renato] foi vendido para a China e, quando foi convocado, falei que era meu sonho cortar o cabelo da seleção. Aí ele falou: ‘deixa comigo. Até porque você é do Andaraí e eu sou cria da Tijuca'”, lembrou Everson.
Uma vez dentro do grupo de atletas do Brasil, Everson se tornou querido entre os atletas. No entanto, durante as Olimpíadas, A CBF trouxe um outro barbeiro para cuidar do visual dos jogadores, o que não agradou e fez até Neymar intervir a seu favor.
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Foto: Reprodução
“O Neymar é bem tranquilo, me dei muito bem com ele. Na Olimpíada mandaram outro barbeiro, o cara não cortou do jeito que eles queriam e o Neymar falou: ‘Manda vir o Perninha que ele é bom. Aqui no Rio tem de ser o Perninha’. Acho que ele gostou de mim porque muita gente chega para pedir coisas, tirar uma casquinha e eu não. Vou lá, faço o meu corte, fico na resenha com os caras… Da outra vez ele pediu para fazer o corte que fazia na Espanha e eu falei que ia fazer melhor do que ele queria. Ele acabou gostando”, disse o cabeleireiro.
Apesar da fama, Perninha, que herdou o apelido do avô, brinca ao dizer que não é porque corta o cabelo de jogadores de alto escalão que ele está com dinheiro sobrando: “Eu corto o cabelo dos famosos, mas dinheiro eu ainda não tenho sobrando, não (risos). Hoje em dia eu moro na parte de baixo da comunidade. Antigamente eu morava bem lá no alto do morro, agora é na entrada. Mas é tranquilo. Everton, Rodinei (jogadores do Flamengo), Kayke, o pessoal do Imaginasamba e Swingue e Simpatia (grupos de pagode) já foram lá na minha casa. Aproveito e mostro para eles os projetos sociais da comunidade”.











