Você conhece bem o que realmente significa o racismo? De acordo com o dicionário, é uma teoria que defende a superioridade de um grupo sobre outros, baseada num conceito de raça, preconizando, particularmente, a separação destes dentro de um país (segregação racial) ou mesmo visando o extermínio de uma minoria.
Parece brincadeira que, em pleno 2017, ainda passamos por coisas assim e vemos, a cada dia, o desrespeito e injustiça que milhares de pessoas sofrem na pele. Uma das incontáveis histórias de racismo que acontecem no mundo, se passou com a babá Noelia Vicente dos Santos, de 48 anos, no shopping Eldorado, na zona oeste de São Paulo.
Ela havia ido à PBKIDS, uma loja de brinquedos, para comprar um presente para a filha de uma amiga, quando percebeu que um segurança a “vigiava”. Para criar uma empatia com ele e acabar com aquela situação constrangedora, perguntou onde poderia encontrar uma boneca qualquer.

Atencioso, o rapaz chamou uma vendedora, porém Noelia ainda sentia algo estranho naquele olhar, coisa que ela diz que pessoas negras costumam passar. Para evitar qualquer pensamento errado do homem, a babá tirou o cartão de crédito da bolsa e ficou com ele na mão.
Em menos de meia hora, acabou encontrando uma boneca de R$ 40, mas que não gostou tanto, então a devolveu para uma estante qualquer e foi embora. Chegando no elevador, o segurança foi até ela e pediu que informasse onde havia colocado a boneca que tirou de uma prateleira. Surpresa, a mulher falou que devolveu o brinquedo, enquanto o homem afirmava que não haviam o encontrado.

Em meio àquela situação, a babá começou a chorar e, nervosa, já não conseguia mais se concentrar para lembrar onde deixou a boneca. Ligou para o marido em pânico pedindo ajuda e sentindo-se humilhada. Não era por menos! Nesse momento, o segurança soltou um ríspido: “e aí? Cadê?”. Noelia, então, fez a primeira coisa que veio em sua cabeça: abriu a bolsa e jogou tudo no chão gritando que não era ladra e que tudo ali era um grande preconceito.
Depois de alguns minutos, ainda sob pressão, ela procurou respirar e se acalmar. Foi quando lembrou que havia deixado o brinquedo em uma prateleira perto da porta de saída. “Estava lá, à vista de qualquer um. O segurança pediu desculpas e escondeu o crachá. Logo veio a gerente e também me pediu desculpas, mas disse que não tinha nada mais o que fazer. Não senti nela um acolhimento, parecia algo corriqueiro. Foi a maior humilhação da minha vida. Por causa de R$ 40”, contou a mulher.

A babá, que já trabalhou para a cantora Rita Lee e para a roteirista Fernanda Young, irá processar a loja por danos morais. Sua advogada, Heloisa Bloisi, conta que já fez o que Noeli fez centenas de vezes em várias lojas e nunca fui abordada. Ela também criticou o fato das pessoas verem isso como algo normal e rotineiro apenas em quem é branco.
Ela realizou um boletim de ocorrência e conta que resolveu se expor e entrar na Justiça para tentar “mudar o mundo”, pois se ninguém fizer algo, nada muda, e os negros não podem ficar acuados por irem onde bem entenderem.

A PBKids informou, por meio de nota ao jornal Folha de S. Paulo, que está apurando o caso e não tolera qualquer tipo de discriminação em suas lojas. Por fim, informa que, de forma alguma, o ocorrido tem relação com preconceito racial, pois isso é algo que não faz parte da nossa cultura empresarial e dos nossos valores.
O racismo existe sim e nunca deixou de estar presente em nosso país. Assim como Noeli disse, não podemos fechar nossos olhos e esperar que o mundo melhore: devemos melhorá-los por nós mesmos.
Fotos: Divulgação, Zanone Fraissat – Folhapress












