Em meio a lançamentos que recebem grande divulgação, às vezes surge uma obra discreta que conquista pelo boca a boca. É o caso de “Amor esquecido” (“Forgotten Love”, título original “Znachor”), longa polonês que estreou na Netflix em 2023. O filme, dirigido por Michał Gazda e protagonizado por Leszek Lichota, Maria Kowalska e Ignacy Liss, se transformou em uma verdadeira descoberta tardia para assinantes da plataforma.
A produção combina drama de época, romance e reflexão sobre identidade, resultando em uma narrativa emocionante que, aos poucos, vem sendo reconhecida como uma joia escondida do streaming.
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Por que o filme voltou a ser comentado
Embora lançado sem grande alarde fora da Polônia, “Amor esquecido” ganhou repercussão em 2025 graças a recomendações de críticos e listas de “filmes para descobrir”. O motivo é simples: trata-se de uma história envolvente, com forte apelo humano, que dialoga com temas universais como perda, perdão e reconciliação.
A trama de “Amor esquecido” (sem spoilers)

O enredo acompanha a trajetória de um médico de prestígio que, após sofrer um acidente, perde tanto a memória quanto a família. Sem identidade, passa a viver como curandeiro em uma comunidade simples, afastado da vida anterior. Anos depois, um reencontro inesperado com alguém do passado coloca à prova suas lembranças e sua capacidade de reconstruir vínculos.
A força do melodrama
Mais do que um drama de época, “Amor esquecido” se ancora em emoções intensas e dilemas humanos. A perda de identidade, a busca por pertencimento e o peso das escolhas passadas se entrelaçam em uma narrativa de longa duração — são cerca de 140 minutos — que não teme investir em ritmo clássico para envolver o espectador.
Um romance como fio condutor
No coração do filme está também uma história de amor. Não apenas o romance romântico, mas o amor em suas diferentes formas: familiar, comunitário e até espiritual. É a partir desse sentimento que o protagonista encontra sentido para seguir adiante.
O legado literário e as adaptações
A origem em “Znachor”
O longa é inspirado no romance “Znachor (O Curandeiro)”, escrito por Tadeusz Dołęga-Mostowicz nos anos 1930. O livro é considerado um clássico da literatura popular polonesa, já tendo sido levado às telas em versões anteriores. A produção da Netflix, lançada em setembro de 2023, é a adaptação mais recente e com maior alcance internacional.
O diferencial desta versão
Ao contrário das adaptações antigas, esta versão aposta em um tratamento mais cinematográfico: cenários amplos, fotografia cuidadosa e atuações que equilibram intensidade dramática e naturalismo. O resultado é um filme acessível a novas gerações sem perder a força da obra original.
Temas centrais de “Amor esquecido”
Identidade e memória
A perda da memória é o grande gatilho da narrativa. A pergunta que ecoa é: quem somos quando nossas lembranças são arrancadas? O protagonista precisa se reinventar, e o espectador acompanha uma jornada que fala sobre resiliência e reconstrução.
Ciência versus tradição
O filme também aborda o choque entre o conhecimento acadêmico e os saberes populares. O médico, formado em bases científicas, passa a lidar com a sabedoria prática da comunidade, revelando tensões, mas também complementaridades.
O poder do amor
O título não é por acaso: o amor, esquecido e reencontrado, é o que permite ao personagem principal retomar sua humanidade. É o sentimento que guia a trama e oferece uma possibilidade de redenção.
A linguagem cinematográfica
Fotografia e direção de arte
A fotografia alterna paisagens bucólicas com interiores carregados de textura, reforçando o contraste entre cidade e campo. Figurinos e cenários recriam com precisão o período histórico, sem exageros, mas com atenção ao detalhe.
Montagem e ritmo
Com quase duas horas e meia de duração, o longa aposta em cadência lenta, priorizando momentos de contemplação e diálogos densos. Essa escolha pode afastar parte do público acostumado a narrativas mais aceleradas, mas é justamente o que dá força ao drama.
Trilha sonora
A música é discreta, usada para realçar emoções em momentos-chave, sem sobrecarregar as cenas. O equilíbrio contribui para a atmosfera clássica.
Elenco e atuações
Leszek Lichota no papel principal
O ator entrega uma performance contida e poderosa, transmitindo a angústia de alguém que perdeu a si mesmo. Sua interpretação dá credibilidade à transformação do médico renomado em curandeiro humilde.
Maria Kowalska e Ignacy Liss
Os coadjuvantes também brilham, especialmente Maria Kowalska, cuja personagem oferece contraponto emocional ao protagonista. Já Ignacy Liss representa a juventude e os dilemas de uma nova geração.
Elenco coeso
O conjunto de atores reforça a qualidade da produção, transmitindo veracidade tanto nos grandes momentos de emoção quanto nas interações mais simples.
Por que assistir a “Amor esquecido”
Um drama universal
Mesmo sendo uma produção polonesa, o filme fala de questões que ressoam em qualquer cultura: a luta por dignidade, a importância da memória e o poder do amor. Essa universalidade explica o interesse crescente do público fora da Europa.
Uma alternativa ao catálogo previsível
Na Netflix, dominada por produções americanas e séries de ritmo acelerado, “Amor esquecido” surge como opção diferente: uma obra de fôlego, voltada para quem busca histórias profundas.
Para quem é indicado
O filme deve agradar especialmente a quem aprecia dramas clássicos, adaptações literárias e romances intensos, além de espectadores interessados em conhecer cinematografias menos exploradas.
Considerações finais
“Amor esquecido” é mais do que um drama polonês disponível no streaming: é um lembrete de que grandes histórias podem surgir longe dos holofotes de Hollywood. Com direção segura de Michał Gazda, atuações consistentes e um enredo que mistura emoção e reflexão, o longa reafirma a força do cinema europeu em oferecer narrativas atemporais que emocionam e fazem pensar.













