No Distrito Federal, uma prática curiosa vem chamando atenção: a contratação de “personal friends”, pessoas que oferecem companhia remunerada para atividades cotidianas, passeios ou simples conversas. O serviço, que já existe em outros países, ganha força como alternativa para quem enfrenta solidão, mudou-se recentemente para Brasília ou deseja ter alguém para compartilhar momentos específicos.
Embora a ideia de pagar por amizade gere discussões, a procura pelo serviço aumenta, levantando reflexões sobre os rumos da vida urbana e a fragilidade dos laços sociais contemporâneos.
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O que é o serviço de “personal friend”
A proposta central
Um personal friend não é um terapeuta nem um acompanhante romântico: trata-se de alguém contratado para dividir momentos do dia a dia. Pode ser um jantar, uma ida ao cinema, um passeio no parque ou até companhia em eventos sociais. A proposta é oferecer presença, escuta e convivência sem julgamentos.
Como funciona a contratação
Os contatos são feitos por telefone, aplicativos de mensagens ou redes sociais. Antes do encontro, as partes alinham expectativas em uma breve conversa. O pagamento geralmente é por hora — com valores iniciais em torno de R$ 50 a R$ 60, e descontos a partir da segunda hora. Custos adicionais, como transporte, ingressos e alimentação, ficam por conta de quem contrata.
Por que o serviço cresce no DF
A solidão urbana em evidência
Brasília é uma cidade que recebe migrantes de todo o país, o que faz com que muitas pessoas não tenham redes sociais locais consolidadas. Essa ausência de vínculos próximos favorece a busca por alternativas de convivência.
Demanda por presença humana
Mais do que atividades em si, quem procura o serviço busca acolhimento emocional. A possibilidade de conversar, ser ouvido e compartilhar momentos sem necessidade de vínculo profundo é o que mais atrai.
Contexto internacional
Serviços semelhantes já são conhecidos em países como Japão e Estados Unidos, sob nomes como rent-a-friend ou paid companion. A adaptação brasileira mostra que o fenômeno da solidão é global e encontra novas respostas em cada cultura.
Quem contrata e quem oferece

Perfil dos clientes
Os contratantes são variados: desde pessoas que se mudaram recentemente, trabalhadores com rotina solitária, até indivíduos que querem companhia em ocasiões específicas, mas não se sentem confortáveis em ir sozinhos.
Perfil dos prestadores
Os que oferecem o serviço costumam ser comunicativos, empáticos e flexíveis. Ter clareza sobre os limites da relação é essencial, já que se trata de companhia social, não afetiva ou íntima.
Dilemas éticos e sociais
Autenticidade da amizade
Uma das principais críticas é que a amizade, por definição, deveria ser espontânea. Pagar por companhia levanta questionamentos: até que ponto a interação é verdadeira e não apenas transacional?
Risco de dependência
Psicólogos alertam que o serviço pode gerar sensação de conforto imediato, mas também criar dependência emocional, sobretudo em pessoas vulneráveis. Por isso, reforçam que a prática não deve substituir amizades reais nem tratamentos terapêuticos.
Estigma e preconceito
Quem busca o serviço pode enfrentar julgamentos sociais, visto que muitos associam a prática à carência ou “compra de afeto”. Ainda assim, a adesão crescente indica que parte da população está disposta a enfrentar o estigma em troca de bem-estar.
Aspectos legais e práticos
Segurança na contratação
Para evitar riscos, especialistas recomendam checar referências, realizar chamadas de vídeo antes do encontro e firmar combinados claros sobre tempo, atividades e custos.
Questões jurídicas
O serviço não é ilegal, mas tampouco possui regulamentação específica. Em geral, funciona como prestação de serviço autônoma, sem contratos formais, o que pode gerar insegurança jurídica.
Reputação e continuidade
A confiança é elemento central. Muitos profissionais dependem de recomendações e avaliações positivas para ampliar sua base de clientes.
Impactos na sociedade
Reflexo da vida contemporânea
O crescimento desse tipo de companhia remunerada mostra como a modernidade modificou a forma de criar laços. A rotina acelerada, a distância das famílias e o aumento de pessoas que vivem sozinhas tornam a busca por alternativas quase inevitável.
Contribuições e limites
Para alguns, o personal friend é uma ponte que ajuda a vencer a timidez, a retomar a vida social ou simplesmente a enfrentar momentos de solidão. No entanto, é um recurso complementar, não substituto das amizades genuínas.
O que considerar antes de contratar
Perguntas importantes
- O que espero da experiência?
- Tenho clareza dos limites do serviço?
- Estou disposto a investir apenas em companhia temporária?
Cuidados essenciais
- Faça teste inicial de confiança (encontros curtos em locais públicos).
- Não deposite expectativas além do combinado.
- Use o serviço como apoio, não como única fonte de convivência.
Considerações finais
O surgimento dos personal friends no Distrito Federal revela uma tendência mundial: a busca por formas alternativas de companhia em uma sociedade cada vez mais conectada virtualmente, mas marcada por solidão real.
Embora desperte controvérsias sobre autenticidade e vínculos, o modelo encontra espaço porque atende a uma necessidade emocional genuína. Mais do que julgar, o fenômeno nos convida a refletir sobre como cultivamos nossas relações pessoais e a importância de construir laços verdadeiros, além de eventuais serviços contratados.


