O sofrimento silencioso de amar quem já tem outra relação
Muitas pessoas se veem presas a um relacionamento com alguém que já tem um compromisso. À primeira vista, pode parecer uma paixão comum, mas por trás dessa dinâmica existem feridas emocionais profundas, padrões inconscientes e, muitas vezes, uma dependência afetiva disfarçada de amor. Mesmo diante da ausência, da dor e da falta de reciprocidade, algumas pessoas seguem ligadas, nutrindo a esperança de serem escolhidas um dia.
Esse padrão, mais comum do que se imagina, tem raízes complexas que envolvem baixa autoestima, idealizações afetivas e aprendizados emocionais que se formaram ainda na infância. Entender os fatores por trás dessa escolha é o primeiro passo para quebrar esse ciclo e construir vínculos mais saudáveis.
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A carência afetiva como motor invisível
Grande parte das pessoas que se envolvem com alguém comprometido não faz isso de forma consciente. Em muitos casos, existe uma necessidade de afeto tão intensa que qualquer demonstração mínima de atenção parece suficiente. Mesmo que o relacionamento seja desequilibrado, a pessoa aceita migalhas emocionais porque acredita que não merece mais do que isso.
O reforço intermitente que aprisiona
A oscilação entre momentos de atenção e longos períodos de silêncio cria um padrão semelhante ao vício. É como jogar um dado emocional: quando a pessoa comprometida envia uma mensagem ou demonstra carinho, isso ativa um sistema de recompensa que reforça a permanência nesse laço. O problema é que o preço emocional disso é alto — e a sensação de rejeição se intensifica cada vez mais.
A fantasia de ser especial
Existe uma idealização: “ele ou ela vai largar tudo por mim”. A pessoa se agarra a pequenas demonstrações de afeto como prova de que há algo maior por trás. Cria-se, assim, a ilusão de que existe uma conexão única, mesmo que todos os sinais indiquem o contrário. Essa fantasia reforça a ideia de exclusividade, mesmo num relacionamento clandestino.
As consequências emocionais desse tipo de envolvimento
Oscilações de humor e ansiedade
Relacionar-se com alguém comprometido é viver uma montanha-russa emocional. Os altos e baixos são intensos, e a ansiedade domina: quando ele ou ela vai responder? Quando teremos um tempo juntos? Será que um dia vai me escolher? Essas perguntas se tornam obsessivas e consomem energia mental e afetiva.
Queda da autoestima
Com o tempo, a pessoa começa a acreditar que não é boa o suficiente para viver um relacionamento inteiro. Isso fragiliza a autoestima e alimenta um ciclo de autossabotagem. A cada adiamento, a cada promessa não cumprida, cresce o sentimento de que não se é digno de amor verdadeiro.
Isolamento e culpa
O envolvimento com alguém comprometido também pode gerar culpa, principalmente quando há terceiros afetados. Além disso, o sigilo constante e a necessidade de esconder o relacionamento contribuem para o isolamento social e emocional. Fica difícil compartilhar sentimentos com amigos ou familiares, o que acentua a solidão.
Fatores psicológicos que sustentam esse padrão
Feridas de abandono e rejeição
Muitas pessoas que se mantêm em relações desse tipo carregam traumas afetivos de infância, como pais ausentes ou relações instáveis. Essas feridas criam uma predisposição a aceitar relações onde é preciso “merecer” o amor do outro, mesmo que isso envolva sofrimento.
Aprendizados culturais sobre o amor
A cultura romântica frequentemente glorifica histórias de sacrifício, espera e dor em nome do amor. Isso cria uma ideia equivocada de que amar é sofrer, esperar, resistir. Assim, muitas pessoas permanecem em relações que claramente as machucam, acreditando que esse é o preço a pagar por uma paixão verdadeira.
Vínculo traumático
Também chamado de trauma bonding, esse tipo de vínculo se forma quando a pessoa confunde emoções intensas com amor verdadeiro. A imprevisibilidade do parceiro, misturada com momentos de carinho, cria um laço psicológico difícil de romper. Mesmo sabendo que está sendo ferida, a pessoa sente que não consegue sair.
Como romper esse vínculo e retomar o controle da própria vida
Reconhecer que não é amor, é apego
O primeiro passo para romper é reconhecer que o que se vive não é amor saudável, mas apego emocional e dependência afetiva. Amor verdadeiro não precisa de esconderijos, nem se sustenta sobre dor e dúvidas.
Cortar o contato é essencial
Manter algum tipo de contato — mesmo que apenas em redes sociais — impede que a ferida cicatrize. Romper de forma firme e sem retornos é essencial para recuperar a clareza emocional. Isso inclui deixar de acompanhar a vida da pessoa, não responder mensagens e interromper qualquer laço que alimente a ilusão.
Buscar ajuda terapêutica
A psicoterapia é uma ferramenta fundamental para compreender a origem desse padrão e ressignificar crenças emocionais. A ajuda profissional permite entender por que essa relação foi tão importante e como criar novos vínculos mais saudáveis no futuro.
Reconstruir a autoestima
Relações tóxicas minam o amor-próprio. Por isso, é fundamental trabalhar a autoestima, reconhecer as próprias qualidades e se valorizar fora da dinâmica afetiva. Atividades que tragam prazer, realização pessoal e reconhecimento ajudam na reconstrução da identidade.
Fortalecer laços saudáveis
Investir em relações verdadeiras — com amigos, familiares ou novos afetos — ajuda a preencher o vazio deixado pela antiga conexão. O apoio de pessoas que validam seus sentimentos e oferecem segurança é essencial para a cura emocional.
Como evitar se envolver novamente nesse tipo de relacionamento

Identificar os primeiros sinais de desequilíbrio
Pessoas comprometidas que buscam envolvimento paralelo geralmente apresentam os mesmos sinais: segredos, promessas vazias, indisponibilidade emocional. Aprender a reconhecer esses padrões logo no início pode evitar muito sofrimento.
Estabelecer limites firmes
Saber o que se quer em uma relação é o primeiro passo para não aceitar menos do que merece. Estabelecer limites claros e manter o autocuidado como prioridade ajuda a evitar relações tóxicas.
Entender que você merece um amor inteiro
Todos merecem viver uma relação recíproca, clara, respeitosa e presente. Estar com alguém que está emocionalmente e fisicamente disponível não é um luxo, é o básico.
Reflexão final
Relacionar-se com alguém comprometido é, muitas vezes, uma expressão silenciosa de dores antigas não resolvidas. Romper com esse tipo de laço não significa apenas deixar uma pessoa, mas libertar-se de um padrão de sofrimento. Com acolhimento, ajuda adequada e coragem, é possível construir uma nova forma de amar — mais leve, livre e verdadeira.


