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Explosão de diagnósticos de autismo no Brasil acende alerta entre especialistas

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Diagnósticos de autismo disparam no Brasil e preocupam especialistas

Nas últimas décadas, o Brasil vem registrando um aumento expressivo nos diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que tem chamado a atenção de profissionais da saúde mental, educadores e famílias. Embora o maior reconhecimento da condição e o acesso facilitado a serviços médicos sejam avanços importantes, há uma crescente preocupação entre especialistas quanto à possibilidade de diagnósticos excessivos, equivocados ou apressados.

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Por que o número de diagnósticos aumentou tanto?

Maior conscientização e acesso à informação

Com o crescimento das redes sociais e da internet, pais e responsáveis têm buscado mais informações sobre o desenvolvimento infantil. Essa maior vigilância tem levado a um número maior de encaminhamentos para avaliação de possíveis quadros de autismo, especialmente em crianças pequenas.

Expansão da rede de atendimento

Nos últimos anos, o número de clínicas, centros especializados e profissionais capacitados em saúde mental aumentou significativamente, permitindo uma cobertura maior da população e maior acesso a diagnósticos que antes eram negligenciados ou tardiamente feitos.

Benefícios legais associados ao diagnóstico

A obtenção de um laudo de TEA garante ao paciente uma série de direitos: vaga em escola pública próxima, atendimento prioritário, isenção de impostos e até mesmo acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). Esses fatores, por vezes, podem influenciar na procura por diagnósticos com objetivos não exclusivamente médicos.

Quando o excesso vira problema

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Imagem: Tara Winstead/Pexels

Diagnóstico apressado e sem critérios claros

Médicos e psicólogos relatam que há casos em que o diagnóstico de autismo tem sido dado com base em critérios subjetivos, sem a aplicação de instrumentos padronizados ou sem acompanhamento multidisciplinar. Isso gera preocupação sobre a acurácia desses laudos e os riscos de rotular indevidamente uma criança.

Prejuízos à criança e à família

Receber um diagnóstico de autismo muda completamente a vida de uma família. Quando esse diagnóstico é incorreto, pode levar a intervenções desnecessárias, sentimentos de culpa nos pais e dificuldades para a criança se desenvolver de forma natural, além de afastá-la de interações sociais adequadas.

Impacto no sistema de saúde

Com a demanda cada vez maior por atendimento especializado, longas filas de espera têm se formado nos serviços públicos. Isso afeta diretamente crianças com real necessidade de tratamento, que acabam aguardando meses por uma consulta com neurologista, psiquiatra ou terapeuta.

O alerta de Joel Rennó Jr. e outros especialistas

O médico psiquiatra Joel Rennó Jr., professor da Universidade de São Paulo (USP), é um dos profissionais que vêm chamando a atenção para o que ele classifica como uma “epidemia de diagnósticos de autismo”. Segundo ele, há uma tendência preocupante de atribuir o rótulo de TEA a comportamentos atípicos, mas que não configuram, de fato, um transtorno.

Para Rennó, esse fenômeno é alimentado por uma “psicofilia”, ou seja, a busca por explicações psicológicas para dificuldades naturais da infância, como timidez, agitação ou atraso na fala. Ele argumenta que há uma necessidade de maior rigor técnico e responsabilidade por parte dos profissionais que emitem os laudos.

O que é preciso para um diagnóstico correto?

Avaliação multidisciplinar

O diagnóstico do TEA deve ser realizado por uma equipe composta por profissionais como psiquiatra infantil, psicólogo, neurologista e terapeuta ocupacional. Essa abordagem integrada é essencial para analisar o comportamento da criança em diferentes contextos.

Uso de instrumentos validados

Existem escalas e protocolos internacionalmente aceitos, como o ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule) e o CARS (Childhood Autism Rating Scale), que ajudam a estabelecer o grau de comprometimento da criança e confirmar se ela realmente se enquadra nos critérios do espectro autista.

Tempo de observação

É fundamental que o diagnóstico não seja feito com base em uma única consulta. A observação ao longo do tempo e o acompanhamento do desenvolvimento da criança são cruciais para uma avaliação mais precisa.

O papel das escolas e dos pais nesse cenário

As escolas desempenham um papel fundamental na identificação de comportamentos atípicos, já que os professores observam diariamente as interações sociais e o desempenho dos alunos. No entanto, nem sempre estão preparados para distinguir uma dificuldade momentânea de um transtorno mais grave. O mesmo vale para os pais, que muitas vezes ficam inseguros diante de atrasos no desenvolvimento e procuram respostas rápidas.

Por isso, a colaboração entre escola, família e profissionais da saúde é essencial para garantir que o diagnóstico seja bem fundamentado, evitando exageros ou omissões.

Consequências sociais e econômicas dos diagnósticos em excesso

Além do impacto emocional e clínico, o crescimento descontrolado de diagnósticos pode levar a um uso indevido de recursos públicos. Serviços de saúde, educação e assistência social são direcionados com base nas estatísticas de pessoas com deficiência. Se essas estatísticas forem infladas artificialmente, correm-se riscos de comprometer o atendimento a quem realmente precisa.

Além disso, a banalização do diagnóstico pode afetar o próprio entendimento da sociedade sobre o autismo, reduzindo o grau de empatia e apoio que as pessoas realmente diagnosticadas deveriam receber.

Caminhos para enfrentar o problema

Fortalecimento da formação dos profissionais

Capacitar médicos, psicólogos e educadores para que saibam identificar corretamente os sinais do TEA é um dos caminhos mais efetivos para reduzir os diagnósticos apressados. Isso inclui formação técnica e ética.

Auditoria dos laudos e supervisão técnica

Criar sistemas de revisão periódica de laudos emitidos por clínicas particulares ou profissionais que apresentem número elevado de diagnósticos pode ajudar a coibir fraudes ou erros recorrentes.

Campanhas de conscientização

Informar a população sobre o que realmente é o Transtorno do Espectro Autista, quais são seus sinais, como é feito o diagnóstico e quais são os direitos garantidos por lei é fundamental para reduzir a ansiedade e o desejo por diagnósticos rápidos.

Considerações finais

O aumento do número de diagnósticos de autismo no Brasil reflete um momento importante de conscientização e avanço no acesso a cuidados em saúde mental. No entanto, é necessário cautela. O excesso de diagnósticos pode trazer consequências sérias para as crianças, suas famílias e para o sistema de saúde como um todo.

É papel de todos — médicos, pais, escolas, governo e sociedade — garantir que o diagnóstico do TEA seja feito com responsabilidade, embasado em critérios técnicos e pensando sempre no bem-estar da criança.


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