A acne que surge na fase adulta
Durante a adolescência, as espinhas são quase um rito de passagem. No entanto, o que muitos não esperam é que o problema possa voltar — ou até aparecer pela primeira vez — na vida adulta, especialmente entre os 30 e 40 anos. Essa condição, conhecida como acne hormonal, é cada vez mais comum, principalmente entre as mulheres. Ela costuma surgir no queixo, mandíbula e pescoço, áreas muito influenciadas por hormônios androgênicos, como a testosterona. A boa notícia é que existem formas eficazes de tratamento, mas o primeiro passo é entender o que está por trás dessas erupções cutâneas e por que elas insistem em aparecer mesmo após a juventude.
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O que é acne hormonal
A acne hormonal é um tipo de inflamação da pele causada por alterações hormonais que estimulam a produção excessiva de sebo pelas glândulas sebáceas. Esse sebo, quando misturado a células mortas e bactérias, obstrui os poros e forma as temidas espinhas e cravos. Ao contrário da acne adolescente, que costuma afetar principalmente a zona T do rosto (testa, nariz e queixo), a acne adulta é mais localizada nas regiões inferiores do rosto, como queixo, maxilar e pescoço. Ela também tende a ser mais profunda, dolorida e persistente.
Por que a acne aparece depois dos 30
Desequilíbrio hormonal
A principal causa da acne hormonal está na flutuação dos hormônios sexuais, especialmente o aumento relativo de andrógenos (hormônios masculinos que também estão presentes nas mulheres). Essas variações podem ocorrer por diferentes motivos, como ciclo menstrual irregular, síndrome dos ovários policísticos, interrupção ou troca de anticoncepcionais, uso de implantes hormonais e perimenopausa. Essas alterações aumentam a produção de sebo e tornam a pele mais oleosa, criando um ambiente ideal para o desenvolvimento da acne.
Estresse crônico
O estresse é um grande vilão da pele. Ele estimula a liberação de cortisol, um hormônio que interfere no equilíbrio dos andrógenos e, consequentemente, aumenta a oleosidade. Além disso, o estresse reduz a capacidade de regeneração da pele e favorece processos inflamatórios. Não é coincidência que muitas pessoas relatem piora nas espinhas em períodos de sobrecarga emocional ou ansiedade.
Alimentação desequilibrada
Estudos mostram que dietas ricas em açúcar, leite e alimentos ultraprocessados estão associadas ao agravamento da acne. Isso acontece porque o consumo frequente desses produtos estimula a insulina e o fator de crescimento IGF-1, que aumentam a atividade das glândulas sebáceas. Alimentos com alto índice glicêmico, como pães brancos, doces e refrigerantes, também favorecem picos hormonais que desregulam a pele.
Uso inadequado de cosméticos
Produtos oleosos, cremes comedogênicos e maquiagem de baixa qualidade podem agravar a acne. A escolha errada de cosméticos pode entupir os poros e interferir na barreira natural da pele, facilitando o surgimento de inflamações. Dermatologistas recomendam sempre usar produtos “oil free” e não comedogênicos, especialmente em peles predispostas à acne hormonal.
Sintomas e características da acne hormonal

A acne hormonal tem características distintas da acne comum. Os sintomas mais comuns incluem espinhas grandes, internas e doloridas; cravos profundos e inflamações na região do queixo e mandíbula; oleosidade intensa, mesmo em peles mistas; manchas e marcas que demoram a desaparecer; e cicatrizes recorrentes. Em alguns casos, o quadro vem acompanhado de outros sintomas hormonais, como queda de cabelo, irregularidade menstrual e aumento de pelos corporais — sinais que podem indicar síndrome dos ovários policísticos.
Diagnóstico: quando procurar um dermatologista
O diagnóstico da acne hormonal é clínico, mas muitas vezes o dermatologista pode solicitar exames hormonais para avaliar se há alterações nos níveis de testosterona, progesterona, estrogênio, cortisol e insulina. Em mulheres com suspeita de desequilíbrio, também podem ser feitos exames de ultrassom dos ovários e avaliação da função da tireoide. O tratamento deve ser personalizado, já que as causas variam de pessoa para pessoa.
Como tratar a acne hormonal de verdade
Cuidados diários com a pele
O primeiro passo é adotar uma rotina de skincare específica para pele acneica, com produtos suaves e eficazes. Lave o rosto duas vezes ao dia com sabonete anti-oleosidade, use loções com ácido salicílico ou niacinamida para controlar o sebo, prefira hidratantes leves em gel ou sérum e nunca esqueça o protetor solar, mesmo em dias nublados.
Tratamentos tópicos e medicamentos
Entre as opções mais indicadas pelos dermatologistas estão os ácidos esfoliantes, como ácido salicílico, glicólico e retinoico, que ajudam a desobstruir os poros e renovar a pele. Antibióticos tópicos, como clindamicina e eritromicina, reduzem a proliferação bacteriana. Retinoides orais podem ser indicados em casos mais graves, sempre com acompanhamento médico. Anticoncepcionais e reguladores hormonais ajudam a equilibrar os níveis de andrógenos, e medicamentos como a espironolactona bloqueiam a ação dos hormônios masculinos na pele, diminuindo a oleosidade. Cada tratamento deve ser prescrito conforme a causa e intensidade da acne. Automedicação pode piorar o quadro e gerar resistência bacteriana.
Abordagens complementares
Além do tratamento médico, pequenas mudanças de hábito fazem grande diferença. Reduzir o consumo de açúcar e laticínios, aumentar a ingestão de frutas e verduras, praticar exercícios físicos e dormir bem são atitudes que equilibram os hormônios e reduzem a inflamação cutânea.
Tratamentos estéticos como aliados
Procedimentos dermatológicos podem potencializar o resultado do tratamento da acne hormonal, como peelings químicos que renovam a pele e reduzem manchas, laser e luz pulsada que diminuem inflamações e controlam a oleosidade, limpeza de pele profissional e microagulhamento, que estimula colágeno e melhora cicatrizes antigas. Esses tratamentos devem ser realizados apenas por profissionais qualificados.
Acne hormonal em homens: um caso diferente
Embora mais comum em mulheres, a acne hormonal também pode atingir homens adultos, principalmente por conta de alterações no metabolismo da testosterona, uso de esteroides anabolizantes ou stress crônico. Nos homens, as espinhas costumam aparecer nas costas, peito e rosto, com tendência a inflamações severas. O tratamento segue os mesmos princípios, mas deve ser adaptado à fisiologia masculina.
Impacto emocional da acne na fase adulta
A acne aos 30 ou 40 anos tem um peso psicológico maior do que na adolescência. Ela afeta a autoestima, as relações pessoais e até o desempenho profissional. Muitas pessoas relatam vergonha, ansiedade e frustração diante do espelho. Por isso, o tratamento deve ser integrado, cuidando não apenas da pele, mas também da saúde mental. Apoio psicológico e acompanhamento com dermatologista e endocrinologista ajudam a recuperar a confiança e o bem-estar.
Prevenção e manutenção
Mesmo após o controle da acne hormonal, é essencial manter os cuidados diários e consultar o dermatologista regularmente. Evitar interrupções bruscas de anticoncepcionais ou tratamentos hormonais sem orientação médica também é fundamental para prevenir recaídas. A prevenção inclui rotina de cuidados diários com produtos adequados, controle do estresse e do sono, alimentação balanceada, revisão hormonal periódica e evitar manipular espinhas para não causar manchas e cicatrizes.
Considerações finais
A acne hormonal aos 30 e 40 anos é uma condição comum, mas que pode ser controlada com acompanhamento médico, rotina de cuidados e equilíbrio hormonal. Mais do que um problema estético, trata-se de um sinal de que o corpo está reagindo a desequilíbrios internos. Com diagnóstico adequado e tratamento personalizado, é possível restaurar a saúde da pele e a autoconfiança. Afinal, cuidar da acne é também cuidar da saúde física e emocional — e nunca é tarde para começar.













