O ano era 1996 quando uma jovem chamada Simone Borges, na época com 23 anos, saiu de Goiânia para buscar uma vida melhor fora do país. Sua “oportunidade de ouro” surgiu após ela receber uma oferta de trabalho para um bar na Espanha, onde ela pretendia juntar R$ 6 mil reais para comprar seu enxoval de casamento. E em euros, não demoraria. A essa altura, tudo parecia que daria certo.
No entanto, ao chegar à cidade de Bilbao, Simone logo percebeu que seu sonho, na verdade, era um pesadelo. Uma vez no continente europeu, a jovem foi obrigada a se prostituir. O cenário era de terror. Assim, quando teve a chance, a goiana pediu para que sua família avisasse a polícia. E este foi o seu último ato.
Em decorrência de uma pneumonia, Simone morreu no hospital. De acordo com testemunhas, sua morte foi em razão da negligência do centro médico em tratá-la devido o preconceito pelo fato dela ser imigrante. Mas sua família foi ainda mais além ao justificar a perda, alegando que a mulher foi vítima de uma máfia: “Minha filha era saudável. Ela morreu envenenada para não denunciar o esquema”, disse o pai, João Felipe, hoje já falecido.
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Carta de despedida deixada por Simone
Da partida de Goiás até a morte na Espanha, pouco tempo se passou. Foram apenas três meses. E até os familiares da jovem aliciada por uma quadrilha que trafica mulheres procuram respostas a respeito de tudo o que aconteceu.
” [Os traficantes] Mandavam sua fotografia [de Simone] toda semana para a família, para dizer que estava tudo bem. Mas certo dia, ela ligou e pediu que comunicasse a Polícia Federal, a Embaixada, que as mulheres estavam todas retidas, todas presas e eram obrigadas a prostituir-se ou elas morreriam de fome. E muitas usavam drogas. Eu fiquei sem saber o que fazer. Aplicaram overdose nela, a soltaram na rua… Minha filha morreu. E eu sem saber o que fazia”, relatou João, emocionado, na época do crime.
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João Felipe, o pai de Simone, faleceu em 2015 vítima de um enfisema pulmonar
Simone se tornou uma espécie de mártir – ao lado de Kelly Fernanda Martins, uma brasileira que também morreu após ser enganada por uma outra quadrilha, mas em Israel – e hoje representa um símbolo de uma luta contra o tráfico de mulheres para exploração sexual.
Fotos: Reprodução


Carta de despedida deixada por Simone
João Felipe, o 