Datafolha: 94% das crianças entre 4 e 6 anos utilizam telas todos os dias
Um levantamento realizado pelo Instituto Datafolha mostrou que 94% das crianças brasileiras entre 4 e 6 anos têm contato diário com telas. O número confirma que smartphones, tablets, televisores e computadores já fazem parte da rotina da maioria absoluta das famílias, influenciando hábitos de lazer, estudo e socialização desde cedo.
O dado também reacende debates sobre os efeitos do consumo digital na primeira infância. Especialistas apontam que, embora a tecnologia possa ser uma aliada na educação e no desenvolvimento, o uso excessivo e sem supervisão pode gerar consequências negativas para a saúde física e emocional.
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O crescimento do uso digital na primeira infância
Acesso cada vez mais fácil
Nos últimos anos, dispositivos móveis ficaram mais acessíveis e a internet passou a alcançar a maior parte do território brasileiro. Ao mesmo tempo, cresceu a oferta de conteúdo direcionado ao público infantil, desde canais educativos no YouTube até aplicativos interativos de jogos e aprendizado.
Essa combinação criou um ambiente em que a exposição às telas acontece cedo e de forma intensa. Em muitas casas, o celular ou o tablet é usado para entreter a criança enquanto os pais realizam tarefas domésticas ou trabalham.
A influência da pandemia
O período de isolamento social entre 2020 e 2021 acelerou ainda mais a digitalização da infância. Com as escolas fechadas e o contato social limitado, aulas on-line e atividades digitais tornaram-se parte da rotina, habituando crianças ao uso diário de dispositivos.
Possíveis benefícios do contato com a tecnologia
Apesar das preocupações, especialistas ressaltam que a tecnologia não é, por si só, prejudicial. Quando utilizada de forma planejada, pode estimular habilidades importantes:
- Raciocínio lógico e coordenação motora por meio de jogos interativos;
- Curiosidade e aprendizado com vídeos educativos e aplicativos didáticos;
- Desenvolvimento da linguagem com histórias narradas e jogos de vocabulário.
Professores destacam que, quando bem orientada, a interação com telas pode complementar o processo de aprendizagem formal.
Riscos do uso excessivo de telas na infância

Saúde física
A exposição prolongada a telas pode causar fadiga visual, problemas posturais e sedentarismo. O sedentarismo, por sua vez, está ligado ao aumento do risco de obesidade infantil e dificuldades motoras.
Saúde emocional e social
O uso excessivo também pode afetar o desenvolvimento de habilidades sociais, já que reduz o tempo disponível para brincadeiras presenciais e interações com outras crianças.
Psicólogos alertam ainda para riscos de dependência digital e aumento da irritabilidade quando o acesso é restringido.
Sono e comportamento
Estudos indicam que o uso de telas próximo ao horário de dormir pode prejudicar a qualidade do sono, afetando a atenção e o humor no dia seguinte.
O que recomendam os especialistas
Organizações como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) definem diretrizes para o uso de telas na infância:
- Crianças menores de 2 anos não devem ter contato com telas;
- Entre 2 e 5 anos, o tempo de uso deve ser limitado a no máximo 1 hora por dia;
- O conteúdo precisa ser adequado à idade e supervisionado por um adulto;
- Devem ser feitas pausas frequentes para descanso dos olhos e movimentação do corpo.
Como promover um uso saudável das telas
Estabelecer horários definidos
Criar uma rotina que inclua momentos específicos para uso de dispositivos ajuda a evitar excessos e incentiva o equilíbrio com outras atividades.
Priorizar conteúdos educativos
Aplicativos, vídeos e jogos que estimulem o aprendizado e a criatividade devem ser prioridade, sempre escolhidos e acompanhados por um responsável.
Incentivar atividades offline
Brincadeiras ao ar livre, esportes, leitura e atividades artísticas são essenciais para o desenvolvimento integral da criança.
Dar o exemplo
Crianças tendem a reproduzir o comportamento dos adultos. Por isso, pais e cuidadores devem moderar seu próprio tempo de tela e interagir mais com os pequenos.
O papel das escolas e políticas públicas
Além das famílias, as escolas têm papel fundamental na mediação do uso da tecnologia. Muitas instituições já adotam programas de alfabetização digital, que ensinam desde cedo noções de segurança on-line e uso responsável da internet.
Políticas públicas voltadas para o tema também podem contribuir, incentivando campanhas de conscientização e oferecendo apoio para que famílias de diferentes realidades socioeconômicas tenham acesso a informações confiáveis sobre o assunto.
Um desafio para a próxima década
O levantamento do Datafolha deixa claro que o uso de telas por crianças pequenas não é uma tendência passageira, mas uma realidade consolidada. A questão agora é como transformar essa convivência com a tecnologia em algo saudável, que respeite o desenvolvimento infantil e reduza riscos.
Com orientação, limites claros e envolvimento ativo de pais, cuidadores e educadores, é possível aproveitar os benefícios do mundo digital sem comprometer a saúde física e emocional das novas gerações.


