O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, no fim de outubro de 2025, a Lei Complementar nº 235, que institui o Sistema Nacional de Educação (SNE). Popularmente apelidado de “SUS da Educação”, o novo marco legal cria um modelo de cooperação entre União, estados, Distrito Federal e municípios para organizar e fortalecer as políticas públicas de ensino no país.
Inspirado na estrutura colaborativa do Sistema Único de Saúde (SUS), o SNE busca garantir que todos os brasileiros tenham acesso a uma educação pública de qualidade, com padrões mínimos definidos nacionalmente. A proposta é reduzir desigualdades regionais, melhorar a gestão e assegurar que o financiamento da educação seja suficiente para atender as necessidades das redes escolares.
A seguir, entenda em sete pontos principais o que muda com a criação do SNE e como ele deve impactar escolas, estudantes e profissionais da educação.
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1. O que é o Sistema Nacional de Educação
O SNE é uma estrutura legal e administrativa que organiza o funcionamento da educação brasileira em todos os níveis e modalidades — da educação infantil ao ensino superior. Sua principal função é garantir que as diferentes esferas de governo atuem de forma articulada, evitando sobreposições e lacunas de gestão.
Assim como o SUS, o sistema cria regras claras de cooperação, metas comuns e mecanismos de acompanhamento. O objetivo é assegurar que a educação pública tenha o mesmo padrão de qualidade em todo o país, independentemente da região.
Um marco esperado há anos
A criação do SNE já estava prevista na Constituição Federal e no Plano Nacional de Educação (PNE), mas sua regulamentação só ocorreu agora, após décadas de debate entre especialistas, gestores e parlamentares.
2. Por que o SNE foi criado
O Brasil sempre teve uma estrutura educacional descentralizada, com responsabilidades divididas entre os entes federativos. Essa característica, embora garanta autonomia, gerou desigualdades profundas: enquanto alguns municípios têm escolas bem equipadas e professores valorizados, outros enfrentam carência de recursos básicos.
O SNE surge para corrigir essas distorções, criando um regime de colaboração efetivo. Ele estabelece que todos os entes devem seguir metas conjuntas, pactuar responsabilidades e compartilhar dados, planejamento e recursos financeiros.
Além disso, o sistema promete reforçar a transparência na aplicação do orçamento da educação e facilitar o monitoramento dos resultados.
3. Divisão de responsabilidades entre União, estados e municípios
União: coordenação e financiamento
O governo federal será responsável por coordenar o SNE, formular diretrizes nacionais e prestar apoio técnico e financeiro aos estados e municípios. Também caberá à União definir padrões mínimos de qualidade e supervisionar o cumprimento das metas educacionais.
Estados: integração regional
Os governos estaduais terão o papel de articular os municípios de seu território, promovendo integração entre redes e políticas educacionais. Além disso, coordenarão a criação das Comissões Intergestores Bipartites (CIBes), que farão a mediação entre estados e prefeituras.
Municípios: execução e gestão local
Os municípios continuarão responsáveis pela educação infantil e ensino fundamental, mas agora dentro de um modelo de cooperação. Eles poderão se consorciar para dividir custos e compartilhar estruturas, garantindo eficiência e qualidade no atendimento.
4. Principais instrumentos do novo sistema
Padrões nacionais de qualidade
O SNE define parâmetros mínimos para infraestrutura, número de alunos por turma, jornada escolar, formação de professores e acesso à tecnologia. Essa padronização busca reduzir as desigualdades e assegurar que todas as escolas ofereçam condições adequadas de ensino e aprendizado.
Custo Aluno Qualidade (CAQ)
O CAQ será um dos principais instrumentos do sistema. Ele define o investimento mínimo necessário por aluno para garantir a qualidade do ensino. Esse cálculo leva em conta fatores como material didático, infraestrutura e salário dos profissionais.
Embora o valor exato ainda vá depender de regulamentação posterior, o CAQ funcionará como referência para a distribuição de recursos públicos e servirá de base para transferências federais complementares.
Banco Nacional de Dados da Educação
O SNE também prevê a criação de uma base unificada de informações — o Infraestrutura Nacional de Dados da Educação (INDE). Essa plataforma reunirá registros de matrícula, frequência, desempenho e formação dos alunos em todo o país, permitindo acompanhamento individualizado das trajetórias escolares.
Governança compartilhada
A gestão será realizada por meio de comissões intergestores — a Comissão Intergestores Tripartite da Educação (CITe), em nível nacional, e as CIBes, nos estados. Esses grupos serão responsáveis por discutir normas, definir metas e coordenar ações conjuntas.
5. O que muda para escolas, professores e alunos
Acompanhamento da trajetória escolar
Com o novo banco de dados, será possível acompanhar o estudante da creche ao ensino superior, identificando evasões, reprovações e defasagens de aprendizagem. Essa integração de informações ajudará gestores a planejar políticas públicas mais assertivas.
Valorização profissional
O SNE reforça a necessidade de formação continuada e melhores condições de trabalho para os professores. Estados e municípios deverão adequar seus planos de carreira, garantindo que os padrões nacionais sejam respeitados.
Transparência e controle social
Com metas e indicadores públicos, a população poderá acompanhar a aplicação dos recursos e o desempenho das redes de ensino. A expectativa é que o sistema traga mais transparência e participação da sociedade nas políticas educacionais.
6. Prazos e desafios de implementação
Prazos definidos por lei
A lei que cria o SNE já está em vigor, mas sua implementação será gradual.
Em até 90 dias, devem ser instaladas as comissões intergestores.
Em até 2 anos, estados e municípios precisam adequar suas legislações e planos locais de educação às novas diretrizes.
Desafios financeiros
O principal desafio será o financiamento do sistema. Ainda não há clareza sobre o volume de recursos necessários para atingir o CAQ em todas as redes. A União deverá aumentar sua participação no custeio, especialmente em regiões com menor arrecadação.
Coordenação entre os entes
Outro desafio é harmonizar a atuação entre os níveis de governo, respeitando as autonomias locais, mas garantindo coerência nacional. Essa integração exigirá diálogo constante e compromisso político.
Infraestrutura tecnológica
A unificação dos dados educacionais depende de conectividade e equipamentos adequados em todas as regiões. Municípios menores podem enfrentar dificuldades para integrar-se ao sistema digital.
7. Impactos esperados com o SNE
Redução das desigualdades
A principal meta do SNE é diminuir as diferenças regionais. Estados e municípios com menor capacidade financeira deverão receber apoio técnico e repasses adicionais para cumprir os padrões de qualidade.
Melhoria na gestão pública
Com a padronização e o monitoramento de dados, o sistema permitirá que o governo identifique gargalos com rapidez, planejando políticas baseadas em evidências.
Fortalecimento da educação pública
Ao promover cooperação e responsabilidade compartilhada, o SNE pode fortalecer o papel do Estado como garantidor do direito à educação, impulsionando avanços semelhantes aos conquistados com o SUS na área da saúde.

Considerações finais
O Sistema Nacional de Educação inaugura uma nova fase para a política educacional brasileira. Assim como o SUS transformou o acesso à saúde, o SNE pretende integrar redes de ensino e equalizar oportunidades, garantindo que todos os estudantes tenham direito a uma educação de qualidade.
O sucesso dessa iniciativa dependerá da capacidade dos governos de cooperar, financiar e monitorar o sistema de forma eficiente. Se bem implementado, o SNE poderá corrigir desigualdades históricas, valorizar profissionais e colocar a educação pública no centro do desenvolvimento nacional.
Mais do que uma mudança legal, o novo sistema simboliza um pacto federativo pela educação, que poderá redefinir o futuro de milhões de brasileiros.













