Por que explorar o “estranho” no cinema de streaming
A Netflix é conhecida por reunir uma ampla diversidade de produções, mas em meio a dramas familiares, comédias românticas e thrillers de apelo popular, há obras que destoam. São longas que abandonam fórmulas tradicionais, apresentam imagens que beiram o surreal e narrativas que desafiam até espectadores acostumados ao cinema experimental.
Esses filmes não oferecem apenas entretenimento. Eles instigam reflexão, questionam a forma como contamos histórias e exigem mais atenção do público. Ao contrário do fluxo acelerado das produções convencionais, esses títulos convidam a desacelerar e mergulhar em experiências sensoriais complexas.
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O que torna um filme “estranho”
- Estruturas narrativas fragmentadas ou não lineares.
- Elementos de sonho, devaneio ou delírio em cena.
- Temas existenciais abordados de forma simbólica.
- A presença de diretores que imprimem uma marca autoral inconfundível.
Os 3 filmes da Netflix que desafiam até cinéfilos
Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades (2022), de Alejandro González Iñárritu
Uma viagem pela memória
O premiado cineasta mexicano apresenta um longa que mistura memórias, traumas e reflexões sobre a identidade de um artista em crise. A obra não busca contar uma história linear, mas sim traduzir em imagens o caos da mente de seu protagonista, um documentarista que retorna ao México após alcançar reconhecimento internacional.
Por que é tão peculiar
Em “Bardo”, realidade e fantasia se confundem. Cenas grandiosas retratam desde festas intermináveis até passagens surreais, como um bebê devolvido ao útero ou batalhas históricas recriadas em escala épica. O resultado é um cinema que provoca estranhamento justamente por não se prender à lógica convencional.
Principais temas
- A busca por pertencimento em meio ao sucesso global.
- O peso da memória e as distorções das lembranças.
- A fragilidade humana por trás da fama e do prestígio.
Estou Pensando em Acabar com Tudo (2020), de Charlie Kaufman
O enredo que desestabiliza
Baseado no romance de Iain Reid, o filme acompanha uma jovem que viaja com o namorado para conhecer seus sogros. O que começa como um drama psicológico se transforma em um labirinto temporal. Idades mudam, diálogos parecem circulares e a realidade perde consistência.
A assinatura de Kaufman
Charlie Kaufman é conhecido por criar roteiros que exploram os limites da mente e da identidade. Aqui, ele entrega uma experiência repleta de diálogos filosóficos, citações culturais e mudanças narrativas que deixam o público em dúvida sobre o que é real e o que é imaginação.
Reflexões presentes
- A instabilidade das relações afetivas.
- O peso do tempo e da memória.
- A fragilidade da identidade diante do desejo de aceitação.
Velvet Buzzsaw (2019), de Dan Gilroy
Arte que cobra seu preço
Ambientado no competitivo mercado de arte contemporânea, o filme acompanha colecionadores e críticos que se veem diante de pinturas amaldiçoadas. A partir daí, a trama assume tons de terror satírico, criticando a superficialidade do consumo cultural.
O que causa estranhamento
“Velvet Buzzsaw” mistura crítica social e elementos sobrenaturais de forma inusitada. O filme brinca com exageros, personagens caricatos e cenas grotescas que expõem a fragilidade do mundo da arte.
Temas centrais
- O conflito entre arte genuína e mercado.
- O perigo da ganância e da exploração.
- O preço simbólico e literal da vaidade.
O impacto desses filmes no público

Produções como essas podem causar rejeição inicial. Muitos espectadores classificam-nas como “confusas” ou “pretensiosas”. No entanto, a estranheza faz parte da proposta: estimular leituras múltiplas e permitir interpretações variadas.
Benefícios de assistir a filmes “fora da curva”
- Ampliação do olhar crítico sobre o cinema.
- Contato com linguagens audiovisuais inovadoras.
- Reflexão sobre temas universais por meio de metáforas e símbolos.
Como assistir sem se perder
Dicas práticas
- Assista com calma: não é o tipo de filme ideal para um dia de distrações.
- Não busque respostas prontas: abrace as ambiguidades.
- Converse sobre a obra: trocar impressões ajuda a ampliar a interpretação.
Perfil de público
Esses filmes são recomendados a quem gosta de experimentar linguagens diferentes, explorar o simbolismo e se desafiar intelectualmente. Já para quem prefere narrativas objetivas, podem soar excessivamente enigmáticos.
Considerações finais
A Netflix continua sendo palco de grandes estreias e produções de massa, mas também reserva espaço para obras autorais e desafiadoras. “Bardo”, “Estou Pensando em Acabar com Tudo” e “Velvet Buzzsaw” exemplificam um cinema que não busca agradar a todos, mas sim provocar reflexão.
Seja pela grandiosidade visual de Iñárritu, pela mente labiríntica de Kaufman ou pela sátira sobrenatural de Gilroy, esses três títulos provam que o estranho tem seu valor e que, muitas vezes, é no desconforto que o cinema encontra sua força mais autêntica.













