Vivendo há 13 anos em Brasília, uma mãe – cujo nome não será identificado para proteger as crianças – natural de Iguaru, Ceará, é o reflexo da dura realidade que milhões de brasileiros enfrentam dia a após dia.
Aos 29 anos e mãe de sete filhos, os sonhos de uma vida melhor na cidade grande nunca se concretizaram. E sua história foi trazida à tona quando uma das crianças desmaiou de fome após caminhar mais de 2 horas e 30 quilômetros para chegar à escola. “Só eu e Deus sabemos o momento que estou passando. É muito ataque, é muito preconceito”, disse ela ao Correio Braziliense.
“Mãe e pai” de sete filhos, ela sustenta com uma renda inferior a R$ 1 mil. E o caso envolvendo um dos filhos a fez sofrer diversas condenações. Na principal, ela ouve constantemente que deixa os filhos passarem fome. “Dizem que não tinha comida, mas ela [uma das filhas, de 13 anos] fez arroz e feijão para os mais novos antes de irem para escola, eles que não quiseram. Havia o que comer, só não tinha carne”, conta. Apesar disso, ela conta que, pelo horário do ônibus, nem sempre dá tempo de todos terem uma refeição.
Após o desmaio, o menino foi passar um tempo na casa do pai. Emocionada, a mãe não segura as lágrimas ao falar sobre a partida do filho. “Eu creio que ele vai voltar. Não é de hoje que eu venho nessa batalha com todos os meus filhos e nunca os abandonei. O pai pediu para ficar com ele, mas nunca fui mãe de abrir mão da guarda dos meninos. Passo pelo que passo, mas é com eles. Está sendo muito difícil depois de tudo não ter meu filho perto de mim. Se não fosse isso, ele estaria aqui comigo”.
A mulher alega que, mesmo em meio a todo o momento de tristeza e de repercussão negativa, ela ainda espera algo bom vindo dessa história. Sua esperança é para que o caso faça com que as autoridades tomem medidas em relação à extrema pobreza que marca a vida de muitas famílias. Procurando emprego e creche para os filhos, ela só quer que os filhos tenham o que comer todos os dias. “É difícil, mas talvez isso tenha acontecido para mudar minha história. Eu não aguentava mais sofrer dentro deste apartamento. Eu sou o pai e a mãe deles”, revelou.
A falta de creche para as crianças, inclusive, é o principal empecilho para que ela possa procurar um emprego. Sozinha, ela não tem com que deixá-los. A mãe, atualmente, vive no Paranoá Parque, uma espécie de conjunto habitacional para famílias de baixa renda. Ela vive com os filhos em um imóvel de 46m². “Eu não sou a única culpada, tem o governo também. Eles simplesmente soltaram a gente aqui igual bicho. Eu agradeço muito a Deus pela oportunidade de morar aqui, mas não temos nada perto”, desabafou.
O doutorando de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Chaves, explica que o local não foi construído pensando em crianças. Não existe acesso fácil há qualquer escola, creche e nem de mobilidade. Para ele, o abandono do Distrito Federal em relação ás crianças é histórico: “Parece que só as políticas de educação e saúde que são importantes para elas, mas estamos vendo que também há outros direitos, como andar pelas ruas do DF, acessibilidade e segurança”, ressalta.
Fonte: Correio Braziliense